Se você compartilha da minha paixão por indie games, com certeza também vibra quando esses incríveis jogos passam a receber o devido reconhecimento que merecem. Em 2019, escrevi aqui no Quest Giver sobre Celeste, um pequeno jogo indie canadense que foi indicado, ao lado de outros incríveis títulos, para concorrer a melhor jogo do ano no The Game Awards, considerado o Oscar dos games. E no fim do ano passado, mais um título independente teve a honra de participar desta seleta categoria: Hades, da Supergiant Games.

Para quem já experimentou qualquer jogo produzido pela Supergiant – como Bastion ou Transistor -, isso não deveria ser uma surpresa, já que o estúdio costuma sempre criar experiências épicas. Seus títulos sempre são repletos de personagens cativantes, trilhas sonoras bombásticas e um estilo artístico incomparável. Porém, devo admitir que em Hades, um roguelike repleto de ação e combate, eles conseguiram se superar em todos esses aspectos (e as minhas quase 100 horas de gameplay não me deixam mentir).

Mas antes de continuar a falar do jogo em si, que tal uma pequena pausa para explicar o que raios é o gênero roguelike?

Rogue – 1980

Em 1980, um jogo de aventura foi lançado para computadores onde você deveria explorar diversos andares de um calabouço para encontrar um tesouro no final. Esse game, batizado de Rogue, introduziu os jogadores a algumas mecânicas extremamente inovadoras para a época: cenários gerados automaticamente que nunca se repetiam entre uma tentativa e outra e a infame morte permanente (ou permadeath para os íntimos), que fazia com que você voltasse para o começo do jogo e tivesse que começar do zero todas as vezes que você morresse. Com isso, ao longo da história diversos outros jogos passaram a replicar essas duas principais mecânicas que citei em seus gameplays e consequentemente foram batizados de roguelikes, ou seja, similares a Rogue

Fim da aula de história. 🙂

Com isso, chegou a hora de explorarmos um pouquinho mais das razões pelas quais Hades conseguiu se tornar um dos queridinhos do ano de 2020 e brigar de igual para igual com os melhores jogos do planeta, mesmo sendo um indie game e contando com muito menos recursos que seus rivais. E para fazermos isso, vem comigo dar uma voltinha pelo inferno…

Hades – Supergiant Games

Fuja do submundo

Diferente do que o título do jogo sugere, em Hades você não controla o famoso deus da morte da mitologia grega, mas sim o seu filho rebelde, o príncipe Zagreus. E nosso cativante protagonista caracteriza-se como um jovem extremamente habilidoso na arte do combate e, assim como diversas pessoas nessa idade, alguém com uma vontade descomunal de provocar e irritar o seu pai. E é justamente essa rebeldia que vai te fazer dar os primeiros passos na aventura…

A incrível história do game já começa te colocando direto na ação e você vai precisar de pouco tempo para entender que o seu principal objetivo na narrativa é encontrar uma forma de fazer o impossível: escapar das garras do inferno e tentar descobrir mais sobre a sua origem cercada de mistérios. Porém, ao menos que você seja um gamer profissional (já que é possível terminar o jogo assim que você começa), muito rapidamente você vai descobrir que essa tarefa é bem mais complexa do que você imaginava e encontrará o seu inevitável destino: a morte.

É bom ir se acostumando com essa cena…

E como citamos lá em cima, em Hades você terá que conviver com a ideia de permadeath, ou seja, não importa o quão longe você chegue na sua tentativa de fugir do inferno, se a sua vida chegar ao fim, você volta para a estaca zero. E assim se inicia o maravilhoso ciclo do jogo: você começa uma tentativa de escapar, coleta alguns recursos pelo caminho, ganha conhecimento dos seus inimigos e eventualmente encontra seu fim novamente.

Mas pode ficar tranquilo: morrer por aqui significa uma simples visitinha na casa de seu pai, o deus do submundo, onde você poderá conhecer os diversos e icônicos personagens da mitologia grega que habitam os belos salões da Casa de Hades. Como por exemplo o destemido guerreiro Aquiles – que aqui serve como seu treinador e amigo pessoal, a lendária Medusa – reduzida a camareira oficial dos salões do inferno -, o assustador Cerberus – o cão de três cabeças que guarda a entrada do mundo inferior e também é seu amável e carinhoso pet nas horas vagas -, entre muitos e muitos outros. Todos esses personagens possuem uma régua de relacionamento que você pode aprofundar ao longo da sua aventura, descobrir muito mais sobre cada um deles e até receber recompensas especiais como presentes que podem auxiliar no seu objetivo.

Além de conhecer intimamente todos esses personagens, os salões de Hades também vão te dar a oportunidade de visitar seu quarto e usar os recursos conquistados em suas tentativas de fugir do inferno para adquirir pequenos upgrades que serão essenciais a longo prazo para aproximá-lo mais e mais de conquistar sua meta de conhecer o mundo além dos portões do inferno. Esses benefícios podem parecer pouco úteis quando adquiridos individualmente para ajudar em sua jornada, mas em pouco tempo você verá que seu personagem se torna cada vez mais forte e preparado para encarar os desafios do submundo.

Aprimore suas habilidades de combate

Entendendo a mecânica

Agora você já tem uma boa ideia do contexto por trás de Hades, mas para entender direito o grande diferencial do jogo, nada mais justo do que explicar um pouquinho de como funciona o incrível loop de gameplay que a Supergiant Games conseguiu aperfeiçoar nesse título. Portanto, vou contar rapidinho como funciona tentar fugir da casa de Hades.

Todas as suas tentativas começam com você escolhendo o arsenal que você levará na sua tentativa. No começo do jogo suas escolhas serão bem limitadas, mas em pouco tempo você poderá selecionar diferentes armas, acessórios e até alguns outros fatores que prefiro não comentar para não dar nenhum spoiler da aventura! Em seguida, você poderá fugir de casa e acompanhar o príncipe Zagreus em mais uma oportunidade de escapar do inferno…

Descubra seus deuses favoritos

Suas runs sempre começam no nível mais baixo do submundo e vão escalando de salas em salas repletas de monstros a partir daí! Porém, a parte boa disso é que você não precisa encarar esse desafio sozinho. Chocados com a descoberta de possuírem um sobrinho perdido no inferno, os famosos deuses do Olimpo estão mais do que prontos para te ajudar na busca pelo seu objetivo. E essa ajuda vem no formato de poderes especiais fornecidos para deixar seu arsenal de combate ainda mais agressivo – mas para isso você terá que encontrá-los pelo caminho, o que acontece naturalmente a cada nova tentativa.

Essa é definitivamente uma das minhas partes favoritas em Hades, já que os deuses que você interage praticamente vão definir qual será o seu estilo de gameplay a cada nova run. Enquanto Poseidon – o deus dos mares, faz com que seus ataques causem explosões de água que arremessam seus inimigos para longe, Afrodite – a deusa do amor, deixa seus inimigos com efeitos que diminui o dano que eles causam em você. A cada run do jogo você poderá se deparar com 4 a 5 deuses aleatoriamente que vão combinar seus poderes e fazer com que você fique mais poderoso para encarar os desafios que estão por vir. Ou seja, você pode terminar com um Zagreus que causa uma enorme quantidade de dano por ataque, ou adotar um estilo diferente e deixar boa parte do seu dano vindo através de efeitos apartados. Garanto que você terá tempo de testar infinitas combinações diferentes no processo.

Domine seus inimigos com seus poderes

Além dos poderes dos deuses, você também poderá contar com as incríveis habilidades do seu personagem. Zagreus, o príncipe do inferno, também é um poderoso guerreiro. Ele pode naturalmente atacar seus inimigos com ataques rápidos, um golpe especial que muda de acordo com a arma que você usa, um dash – que permite que você se impulsione rapidamente em qualquer direção – e um poder em formato de diamante que causa um boa quantidade de dano em seus rivais. Ou seja, um belíssimo conjunto de ataques!

E todo esse poder será mais que bem-vindo, afinal os monstros e bosses que estarão em seu caminho para impedi-lo de chegar até a saída não são nem um pouco fáceis de enfrentar. Porém, com paciência e prática, você ficará cada vez mais acostumado e entenderá o que deve fazer para lidar com cada um deles da melhor forma. Isso acontece porque apesar de ser um roguelike, Hades possui um “caminho” basicamente fixo que divide você do seu objetivo. Haverão algumas variações que com certeza te pegarão de surpresa conforme você avança na história, mas garanto que não levará muito tempo para você conhecer os salões do inferno como a palma da sua mão. Em Hades, uma run nunca será igual a outra. 🙂

Prepare-se para enfrentar boa parte da mitologia grega

Conquistando o inferno

Se a explicação sobre a dinâmica do jogo citada acima soou um pouco repetitiva, pode ficar tranquilo que isso está longe de ser verdade. E a razão disso é que o jogo oferece uma enorme quantidade de objetivos secundários que vão te manter extremamente focado e satisfeito de continuar suas inúmeras tentativas de escapar.

Explore a (complicada) relação com seu pai

Além de buscar sua meta principal e se ver livre da casa de Hades, você também coletará recursos diferentes a cada nova fuga, que não serão resetados quando você for derrotado pelo caminho. Ou seja, com isso você pode não só investir em deixar Zagreus mais forte, como já citei lá em cima, como também poderá redecorar os salões da casa de Hades, desbloquear músicas para ouvir na sua estadia por aqui, presentear os NPCs para se tornar mais íntimos deles e muito mais. O jogo sempre terá uma nova surpresa para você almejar, não importa o quanto você jogue.

Por fim, Hades também possui um ponto relevante que difere ele de grande parte dos roguelikes: uma história profunda e bem trabalhada. Portanto, pode ter certeza que assim como você vai se sentir empolgado por fazer mais uma tentativa de fugir do submundo, morrer também vai te deixar intrigado, já que isso muitas vezes avança a história de pouquinho em pouquinho e permite que você interaja ainda mais com os habitantes do inferno. Garanto que vale a pena parar para ler cada um dos milhares e milhares de diálogos bem escritos e interpretados para se deixar levar pelo conto do príncipe Zagreus.

E você deve estar se perguntando: “Ok, mas o que acontece quando eu escapar do inferno?”. Bom, aí você terá que testar por si só para conseguir a resposta. 😉

Hades – Release Trailer

Todos esses elementos de gameplay, somados a uma trilha sonora eletrizante e um estilo de arte que só a Supergiant Games consegue reproduzir com perfeição fazem de Hades um jogo que mostra que os indie games estão cada vez mais preparados para tomar seu espaço na indústria e brigar de igual para igual com qualquer produção AAA.

Portanto, espero que você se divirta explorando cada pequeno cantinho da casa de Hades, coletando todos os colecionáveis, conhecendo intimamente cada um dos NPC’s e perseguindo as infinitas outras coisas que essa obra prima oferece para quem quiser experimentar um roguelike épico.

Hades foi lançado originalmente para o Nintendo Switch e PC em setembro de 2020, porém, recentemente o jogo chegou tanto para o Xbox – One e Series X/S – quanto para o Playstation – PS4 e PS5 -, ou seja, não importa qual seja o seu sistema de preferência, você vai poder os maravilhosos desafios que esse jogo indie fará você enfrentar!

E se tudo isso ainda não te convenceu a fazer a sua jornada pelo submundo da mitologia grega, fica aqui o meu desafio pessoal: quero ver você bater o meu recorde pessoal de 20 minutos para escapar do inferno. 😈 Te vejo na casa de Hades!

Adquira Hades:

Curtiu a experiência de jogar Hades? Então que tal experimentar os outros incríveis títulos feitos pela Supergiant Games? Dê uma olhada em Bastion ou Transistor! Ou, caso você queira experimentar outro jogo indie que explore o conceito da morte de uma forma bem criativa, sugiro que você confira tudo sobre Minit.

3 comentários em “Hades

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